Caminhando juntos no Serviço de Deus ao Mundo

O encontro dos Primazes Anglicanos, os bispos seniores das 38 Províncias Anglicanas, com a presença do Arcebispo da Igreja Anglicana da América do Norte, teve lugar em Cantuária, entre segunda-feira 11 de Janeiro e sexta-feira 15 de Janeiro, a convite do sr Arcebispo de Cantuária, Justin Welby. A primeira manhã passou-se em oração e jejum.

Sabíamos que o encontro dos Primazes em 2016, assumiria a preocupação sobre as diferenças existentes entre nós no que diz respeito ao nosso ensino em assuntos de sexualidade humana. Estávamos também ansiosos em poder tratar de assuntos de áreas de maior preocupação.

O encontro começou com acordo sobre a agenda. O primeiro assunto acordado foi o de discutir um importante ponto de discórdia entre os Anglicanos em todo o mundo: a recente mudança à doutrina do casamento pela Igreja Episcopal dos Estados Unidos.

Durante a última semana, a decisão unânime dos Primazes, foi a de continuar a caminhar juntos, enquanto expressão profunda da nossa unidade no corpo de Cristo, por muito doloroso que esse caminhar possa ser, e apesar das nossas diferenças. Olhamos para o que tal significa em termos práticos.

Recebemos a recomendação de um grupo de trabalho dos nossos membros que ficou com a tarefa de definir como a nossa Comunhão Anglicana de Igrejas pode caminhar em conjunto e a nossa unidade ser fortalecida. O trabalho deles, condizente com anteriores declarações dos encontros dos Primazes, tratou das consequências que se seguem, para a Igreja Episcopal na relação com a Comunhão Anglicana, no seguimento da sua recente mudança da doutrina do casamento. As recomendações constantes dos parágrafos 7 e 8 da Adenda A são:

«É nosso desejo unânime caminhar em conjunto. No entanto dada a gravidade destes assuntos, reconhecemos formalmente essa distância, requerendo que por um período de três anos, a Igreja Episcopal não nos represente em organismos ecuménicos e inter-religiosos, não deva ser nomeada ou eleita para uma comissão permanente interna e que ao participar nos órgãos internos da Comunhão Anglicana, não tomarão parte no tomar de decisões sobre quaisquer questões relativas à doutrina ou política da Comunhão».

«Solicitamos ao Sr Arcebispo de Cantuária que apontasse um Grupo de Trabalho para manter as conversações entre nós próprios com a intenção de restaurar a relação, a reconstrução da confiança mútua, curando o legado de dor, reconhecendo a extensão da nossa comunhão e explorando as nossas profundas diferenças e assegurando que elas são mantidas entre nós no amor e na graça de Cristo».
 
Estas recomendações foram adotadas pela maioria dos Primazes presentes.
 
Desenvolveremos este processo para que o mesmo possa também ser aplicado, quando qualquer decisão unilateral em assuntos de doutrina e política é tomada e possa ameaçar a nossa unidade.
 
Os Primazes condenam os preconceitos e a violência homofóbica e resolvem trabalhar juntos para oferecer apoio pastoral e serviço em amor independentemente da orientação sexual de cada pessoa. Esta convicção provem do nosso discipulado de Jesus Cristo. Os Primazes reafirmam a sua rejeição da aplicação de sanções criminais contra pessoas do mesmo sexo que se relacionem entre si.
 
Os Primazes reconhecem que a Igreja Cristã e nela a Comunhão Anglicana agiu muitas vezes de um modo que causou profunda dor relativamente a pessoas dada a sua orientação sexual. Onde tal aconteceu eles expressam a sua profunda tristeza e afirmam de novo que o Amor de Deus para cada ser humano é o mesmo, independentemente da sua sexualidade, e de que a Igreja nunca deverá comportar-se de outro modo.
 
Afirmamos o processo de consulta que ocorreu em preparação para este encontro e que foi realizado pelo Arcebispo Welby e recomendamos a sua abordagem para futuros eventos dentro da Comunhão.
 
A consideração da aplicação necessária à admissão enquanto membro da Comunhão Anglicana da Igreja Anglicana da América do Norte foi reconhecida como algo que pertence ao Conselho consultivo Anglicano. Os Primazes reconhecem que tal aplicação, se viesse a ocorrer, levantaria significativas questões de política e jurisdição.
 
Na sequência da conferência sobre a mudança do clima ocorrida em Paris no último mês, o encontro tomou conhecimento de uma petição de quase dois milhões de assinaturas coordenada pela Rede Anglicana Ambiental. Foram apresentados relatórios sobre avanços para se desinvestir nos combustíveis fósseis, sobre a expansão dos desertos Africanos e a luta pela sobrevivência das pessoas do Pacifico, dado que a vida das ilhas está ameaçada em muitos lugares pela subida do nível do mar.
 
O encontro discutiu a realidade da violência motivada pela religião e o seu impacto nas pessoas e comunidades através do mundo. Os Primazes que vivem em locais nos quais esta violência é uma realidade diária falaram com amor e paixão sobre as suas circunstâncias e o efeito nos seus membros. O próprio Arcebispo de Cantuária tomou importantes iniciativas para discussão e aconselhamento mútuo entre pessoas pertencentes a um conjunto de comunidades de fé a nível global.
 
Os Primazes Anglicanos repudiaram qualquer violência justificada por motivos religiosos e expressaram a sua solidariedade com todos os que sofrem deste mal no mundo de hoje.
 
Os Primazes veem com expectativa a proposta a ser levada ao Conselho Consultivo Anglicano para serem adotadas medidas compreensivas de proteção de crianças a serem presentes a todas as Igrejas da Comunhão.
 
Numa apresentação sobre Evangelização, os Primazes alegram-se por a Igreja de Jesus Cristo viver para prestar testemunho ao poder transformante do amor de Deus em Jesus Cristo. Os Primazes ficaram motivados pela oportunidade de partilharem experiências de evangelização e motivados para evangelizar com os seus membros :
 
«Os Primazes comprometem-se alegremente e à Igreja Anglicana, a proclamarem incessante e autenticamente pelo mundo, a pessoa e obra de Jesus Cristo, convidando todos a abraçar a beleza e o gozo do Evangelho».

Os Primazes apoiaram a proposta do Arcebispo de Cantuária de convocar uma Conferência de Lambeth em 2020.

Os Primazes discutiram tribalismo, etnicidade, nacionalismo, as redes de clientelismo, e o profundo mal da corrupção. Refletiram que estes assuntos estão intrinsecamente ligados à guerra e à violência, e derivam da pobreza. Concordam em solicitar ao Secretário-geral da Comunhão Anglicana que promova um estudo para o próximo encontro de Primazes.

Os Primazes concordam em se encontrar de novo em 2017 e 2019.

(…)

Terminámos esta semana passada em conjunto enriquecidos pela comunhão que partilhamos e fortalecidos pelo testemunho fiel dos Anglicanos em todo o mundo. Os Primazes apreciaram profundamente as orações de muitos através do mundo durante o tempo passado em conjunto».
 
Apêndice A da declaração dos Primazes:

1 - Reunimo-nos como Primazes Anglicanos para orar e considerar como podemos preservar a unidade em Cristo dadas as contínuas e profundas diferenças que existem entre nós no que diz respeito ao nosso entendimento do casamento.

2 – Desenvolvimentos recentes na Igreja Episcopal (USA) no que diz respeito a uma mudança no Cânon sobre casamento, representam uma mudança fundamental da fé e do ensino sustentada pela maioria das nossas Províncias na doutrina do casamento. Possíveis desenvolvimentos noutras Províncias poderão exacerbar esta situação.

3 - Todos nós lamentamos que estes desenvolvimentos tenham causado ainda mais profunda dor através da nossa Comunhão.

4 – A tradicional doutrina da Igreja à luz do ensino das Escrituras, sustenta o casamento como sendo entre homem e mulher, numa união fiel e para a vida. A maioria dos presentes reafirmam este ensinamento.

5 - Condizente com a consistente posição de anteriores encontros dos Primazes tais ações unilaterais num assunto de doutrina sem unidade Católica é considerado por muitos de nós como um desvio da mútua responsabilidade e interdependência implícita na relação de uns com os outros na Comunhão Anglicana.

6 - Tais ações prejudicam ainda mais a nossa comunhão e criam uma desconfiança profunda entre nós. Tal resulta numa significativa distância entre nós e coloca enormes pressões no funcionamento dos Instrumentos da Comunhão e nas formas pelas quais expressamos as nossas relações históricas e em curso.
 
7 – É nosso desejo unânime caminhar em conjunto. No entanto dada a gravidade destes assuntos, reconhecemos formalmente essa distância, requerendo que por um período de três anos, a Igreja Episcopal não nos represente em organismos ecuménicos e inter-religiosos, não deva ser nomeada ou eleita para uma comissão permanente interna e que ao participar nos órgãos internos da Comunhão Anglicana, não tomarão parte no tomar de decisões sobre quaisquer questões relativos à doutrina ou politica.
 
8 - Solicitamos ao sr Arcebispo de Cantuária, que apontasse um Grupo de Trabalho para manter as conversações entre nós próprios, com a intenção da restauração da relação, a reconstrução da confiança mútua, curando o legado de dor, reconhecendo a extensão da nossa comunhão e explorando as nossas profundas diferenças, assegurando que elas são mantidas entre nós no amor e na graça de Cristo.
 
[Comunicado traduzido e adaptado do original pelo Departamento de Comunicação da Igreja Lusitana em 20 de Janeiro de 2016]

Download PDF
 
WEB: www.igreja-lusitana.org

Igreja Lusitana Católica Apostólica Evangélica - Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.