Cura-nos Senhor …

«Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes» ... o que eu quero é misericórdia e não sacrifícios. Eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores.» (Mateus 9, 11-13)

Para Jesus é claro que a saúde e o bem-estar de cada pessoa pressupõem a reparação do pecado concedida através da misericórdia de Deus e já não através de sacrifícios. Não pode haver verdadeira saúde se o pecado persiste na pessoa e a impede da sua realização plena com Deus e os outros. Por outras palavras, e no conceito atual de saúde, podemos estar bem física, orgânica e psicologicamente, mas, no entanto, se nos desligamos por vontade própria da nossa relação filial com Deus, a nossa saúde nunca será plena, dado que estará privada da relação com a fonte da plena vida que é Deus. Os milagres de Jesus tal como os seus relacionamentos bem humanos, visam não só a cura física e de enfermidades (cura dos cegos, dos mudos, dos paralíticos, dos leprosos …) como a cura de espíritos maus que aprisionavam as pessoas e ainda a cura espiritual que leva ao arrependimento, à confissão e reconhecimento dos pecados cometidos e à conversão a Deus.

Ou seja, a doença que se exprime na nossa fragilidade física pede a cura e Jesus curava e continua a curar hoje as nossas enfermidades físicas. Mas a doença a que poderemos chamar «moral ou espiritual» pede a salvação que só Deus pode conceder. Por isso Jesus afirma aos fariseus que o criticavam em casa de Mateus: «Eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores». A preocupação de Jesus é para com os pecadores e a sua reabilitação perante Deus e os outros. Jesus não está obcecado com o pecado antes, o seu cuidado, dirige-se para com o pecador. A Jesus interessa a pessoa concreta que dele se aproxima ou que perante ele está. É o caso da mulher adúltera, que depois de ter sido rejeitada pelos que a condenavam é reabilitada por Jesus com a advertência de «não voltar a pecar» ou seja, não se deixar prender novamente nas teias e amarras do pecado que conduz a um estado de morte mesmo estando viva.

A sua preocupação (a de Jesus) ontem como hoje, são todos aqueles e aquelas, homens e mulheres, que na sua debilidade humana e espiritual estão presos ao pecado que gera a morte e que por si só, dele não se conseguem libertar sem o amor e a graça divinas. A morte provocada pelo pecado, expressa-se na falta de amor, e na falta de verdade que destrói as relações e a dignidade que assiste a cada pessoa, e que nos afasta de Deus enquanto nosso pai e mãe. Esta é a verdadeira morte (aquilo que afasta a vida) e que nos escraviza já e que nos impede de viver a vida com abundância e plena felicidade. Se a saúde física é sinónimo de felicidade e bem-estar, a saúde espiritual e interior remetem-nos para um plano de realização e de vida muito superior ao simples bem-estar físico e corporal.

A Jesus interessa a pessoa na sua totalidade enquanto criatura gerada pelo sopro divino e «criada à sua imagem e semelhança». Interessa-lhe o potencial de santidade que assiste a cada um de nós pela graça do nosso batismo. Todo o nosso ser corpóreo e espiritual lhe diz respeito e é querido por Deus.

Para Ele e ao contrário dos fariseus que com Ele comiam, todos, sem exceção, são merecedores da graça de Deus e de um modo particular os que se encontram amarrados pelo pecado. A rápida resposta de Levi Mateus ao chamamento que Jesus lhe fez para o seguir é consequência da sua necessidade de ser perdoado e amado. Tal como a manifestação da doença física nos leva a procurar o médico também a manifestação da infelicidade que o pecado nos traz nos deve predispor ao arrependimento buscando e seguindo Jesus. Assim aconteceu com Levi Mateus que se levantou, seguiu Jesus e lhe abriu as portas da sua casa.

Mas muitas vezes, temos que reconhecer que tal não acontece connosco. Com efeito, somos rápidos a ler e compreender os sinais da doença física que nos toca, e tardos em aceitar os sinais da nossa doença espiritual que requer o arrependimento perante Deus. Corremos mais depressa para as mãos do médico do que para as mãos do sacerdote ou pastor. E muitas vezes o problema somático não é mais do que uma consequência de uma profunda carência espiritual. O primeiro passo para a boa saúde é o arrependimento que nos abre à graça purificadora do amor de Deus. O arrependimento requer humildade e verdade perante nós próprios e Deus. Santo Agostinho referiu que «as lágrimas do arrependimento lavam as manchas da nossa culpa».

Assim só nos resta orar nas palavras de Mari Ayerra:

 
CURA-NOS, SENHOR
 
Porque precisamos de Ti quando estamos doentes,
porque só Tu sabes o que nos faz falta,
porque Tu és o remédio para as nossas zonas doentes,
porque vieste trazer saúde às nossas mentes,
 
CURA-NOS, SENHOR
 
Porque queremos seguir-Te como Mateus,
mesmo se, por vezes, nos envolve a incoerência,
e em certas ocasiões nos comportamos como fariseus,
julgando-nos superiores, instalados na nossa verdade,
 
CURA-NOS, SENHOR.
 
Porque és Pai e Mãe que nos ama,
porque nos diriges um chamamento pessoal à plenitude,
porque nos tornas misericordiosos,
 
CURA-NOS, SENHOR !

 + Jorge, 14 de junho 2023

Igreja Lusitana Católica Apostólica Evangélica - Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.