1º Domingo Comum - Festa do Batismo de Cristo - Comentários bíblicos - Bispo D. Fernando Soares - 9/1/2022

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COMENTÁRIO BÍBLICO 
1º Domingo Comum – Ano C
Festa do Batismo de Cristo
9jan2022

Isaías 61,1-4; Salmo 29; Atos 8,14-17
 
S. Lucas 3,15-17.21-22
15O povo estava na expectativa e cada um se interrogava a si próprio se João não era o Messias. 16Mas ele explicou a todos: «Eu batizo-vos em água, mas está a chegar quem tem mais autoridade do que eu, e a esse eu nem sequer mereço a honra de lhe desatar as correias das sandálias. Ele há de batizar-vos no Espírito Santo e no fogo. 17Tem nas mãos a pá para separar, na eira, o trigo da palha. Guardará o trigo no seu celeiro e queimará a palha numa fogueira que não se apaga.»
21Toda a gente recebia o batismo e Jesus também foi batizado. Estava a orar quando o céu se abriu 22e o Espírito Santo desceu sobre ele em forma visível, como uma pomba. E uma voz do céu disse: «Tu és o meu Filho querido. Tenho em ti a maior satisfação.»
 
1. Jesus submete-se ao batismo de João. Seria necessário? O que é que isto quer dizer? Não há dúvida que a pregação de João Batista teve alguma influência em Jesus que pessoalmente concordou com o apelo para a conversão (S. Mateus 3, 13-15). Como veríamos o jovem de 30 anos, Jesus, ali na fila esperando pela Sua vez para o batismo de João? Talvez mais ou menos como as filas de pessoas, agora, à chuva e ao frio, para as vacinas ou para os testes COVID… E não há dúvida que tal aconteceu mesmo. Foi um facto histórico. Mas o episódio, também, se pode analisar em termos hermenêuticos, isto é, sugerindo um significado para além da sua historicidade. Nesse sentido, há quem considere que ali está expresso o primeiro ato profético de Jesus. Foi, por isso, um ato histórico, mas, também, profético. E, como ato profético, Jesus quer dar a entender, no início da Sua vida pública, “que, de facto, o Israel ‘todo’ precisa de conversão, necessita voltar para Deus, conforme o Batista exige” (Schillebeeckx, 2000). Então, o batismo de Jesus é um sinal da esperança divina.

2. E pronto… arrumámos o presépio, a árvore de Natal, todos os enfeites complementares, e avançámos para o estar quotidiano da nossa vida. Até ao ano! Parece que vivemos em compartimentos quase estanques que determinam o nosso trajeto. Contudo, há algo que precisamos ter em conta, pois, tudo está conectado.
Ao ler-se o Evangelho de hoje e o que lhe antecede salta-se num ápice das peripécias do nascimento do Menino e da adoração dos Magos para o batismo de Jesus nas águas do Jordão. Jesus não foi ”só” batizado, também emergiu da água para ouvir a voz que lhe anunciou um amor imenso, a consagração para uma missão num caminho de esforço e tenacidade para levar um boa nova aos pobres, para curar os desesperados, para proclamar a libertação aos exilados e aos prisioneiros a liberdade; para anunciar o ano da graça do Senhor” (Isaías 61, 1-4). O salto aconteceu connosco, também, no nosso batismo, ainda mal entrados na vida e já mergulhados na água dum amor abundante. O que nos ficou como memória, porventura ainda o temos, as fotografias, a vela, o que nos foi vestido e o sentimento de alguém que dizia sempre que levava um dos seus filhos ao batismo, “mais um cristãozinho”. Então, assim como Jesus “entrou” na vida de Deus, assim Jesus entrou em nós. Tudo simples, muito difícil de compreender, mas, alegre e só passível de ser aceite pela fé.

3. O nosso batismo não foi apenas um momento ou um episódio de vida. Foi, isso sim, um processo que se iniciou nessa altura e continua até ao momento em que nos encontrarmos com o Senhor, face a face. Porque o que Deus disse a Jesus na altura do Seu batismo foi o que nos disse no nosso: Tu és o meu Filho querido. Tenho em ti a maior satisfação.”. Primeiro, chamou-nos Filho. Isto é, à nossa relação com os nossos pais e mães acrescentou-nos a relação com o Senhor da vida. Não somos órfãos nem nascemos do nada. Depois, querido, amado, só porque nascemos e estávamos a crescer, sem entendermos o que isso é. E terminou dizendo: Tenho em ti a maior satisfação.”Ou seja, Deus alegra-se connosco e quer viver cada dia connosco em festa.
Sim, tudo isto começou no nosso batismo e mantém-se porque não se gasta porque a vida com Jesus é fonte de água viva, cristalina, que não seca (S. João 4, 13-14). Mas, para que o nosso batismo esteja vivo e seja eficaz na nossa existência importa que sejamos capazes de com todo o nosso coração Lhe chamar “Pai”, de acreditar e acolher o Seu amor sempre pronto e de braços abertos, de aderirmos à Sua alegria que nos quer fazer oferta de comunhão para Ele e para todos com quem convivemos. Ser batizado, portanto, é uma identidade de pertença a uma comunidade de crentes que se afirma sempre que admitimos e testemunhamos a soberania de Deus como Pai amoroso que se alegra com cada um dos seus filhos e os abençoa até ao fim. 

+ Fernando
Bispo Emérito da Igreja Lusitana

 
 
 

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